segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Um povo lutou contra os eucaliptos...

Reportagem da Notícias Magazine (não datada)

Foi o nosso 25 de Abril», diz Maria João Sousa, que tinha 15 anos quando a revolução chegou à sua terra. No dia 31 de março de 1989, a rebate do sino, 800 pessoas juntaram-se na Veiga do Lila, uma pequena aldeia de Valpaços, e protagonizaram um dos maiores protestos ambientais que alguma vez aconteceram em Portugal.

A ação fora concertada entre sete ou oito povoações de um escondidíssimo vale transmontano, e depois juntaram-se ecologistas do Porto e de Bragança à causa. Numa tarde de domingo, largaram todos para destruir os 200 hectares de eucalipto que uma empresa de celulose andava a plantar na quinta do Ermeiro, a maior propiedade agrícola da região.

À sua espera tinham a GNR, duas centenas de agentes. Formavam uma primeira barreira com o objetivo de impedir o povo de arrancar os pés das árvores, mas eram poucos para uma revolta tão grande.

Maria João, que nesse dia usava uma camisola vermelha impressa com a figura do Rato Mickey, nem deu pelo polícia que lhe agarrou no braço. «Ide para casa ver os desenhos animados», atirou-lhe, mas a rapariga restaurou a liberdade de movimentos com um safanão: «Estava tão convicta que não sentia medo nenhum. Naquele dia ninguém sentia medo nenhum. Eles atiravam tiros para o ar e parecia que tínhamos uma força qualquer a fazer-nos avançar.»

A tensão subiria de tom ao longo da tarde. «Houve ali uma altura em que pensei que as coisas podiam correr para o torto», diz agora António Morais, o cabecilha dos protestos. Havia agentes de Trás os Montes inteiros, da Régua e de Chaves, de Vila Real e Mirandela.

Mas também lá estava a imprensa, e ainda hoje o homem acredita que foi por isso que a violência não escalou mais. Algumas cargas, pedrada de um lado, cacetadas do outro, mas nada que conseguisse calar um coro de homens e mulheres, canalha e velharia: «Oliveiras sim, eucaliptos não».


«Não queríamos arder aqui todos»

A guerra tinha começado a ser preparada um par de meses antes, quando António Morais, proprietário de vários hectares de olival no Lila, percebeu que uma empresa subsidiária da Soporcel se preparava para substituir 200 hectares de oliveiras por eucaliptal para a indústria do papel. «Tinham recebido fundos perdidos do Estado para reflorestar o vale sem sequer consultarem a população», revolta-se ainda, 28 anos depois.
«Nessa altura o ministério da agricultura defendia com unhas e dentes a plantação de eucalipto.» Álvaro Barreto, titular da pasta, fora anos antes presidente do conselho de administração da Soporcel e tornaria ao cargo em 1990, pouco depois das gentes de Valpaços lhe fazerem frente.
António Morais foi o cabecilha dos protestos. Percorrendo as aldeias depois da missa foi convencendo o povo que o lucro fácil trairia prejuízos a médio prazo.

«A tese dominante dos governos de Cavaco Silva era que urgia substituir o minifúndio e a agricultura de subsistência por monoculturas mais rentáveis, era preciso rentabilizar a floresta em grande escala», diz António Morais. O eucalipto adivinhava-se uma solução fácil.
Crescia rápido e tinha boas margens de lucro. Portugal, aliás, ganharia em poucos anos um papel de destaque na indústria de celulose e os pequenos proprietários poderiam resolver muitos problemas de insolvência abastecendo as grandes empresas com uma floresta renovada. A teoria acabaria por vingar em todo o país, sobretudo no interior centro e norte. Mas não em Valpaços.

«Comecei a ler coisas e percebi que o eucalipto nos traria grandes problemas», continua António Morais. «Por um lado, numa região onde a água é tudo menos abundante, teríamos grandes problemas de viabilidade das outras culturas. Nomeadamente o olival, que sempre foi a riqueza deste povo. E depois havia os incêndios, que eram o diabo. São árvores altamente combustíveis e que atingem uma altura muito grande.»
Na terra quente transmontana o ano são oito meses de inverno e quatro de inferno. O fogo, tinha ele a certeza, chegaria com aquele arvoredo.
Uns meses antes da guerra, começou a conversar sobre o seu medo com algumas das mais relevantes personalidades do vale. Grandes proprietários, políticos da terra, as famílias mais reconhecidas. «Lentamente começou a formar-se um consenso de que o lucro fácil do eucalipto seria a médio prazo a nossa desgraça. Não queríamos deixar secar a nossa terra. E não queríamos arder aqui todos. Tínhamos de destruir aquele eucaliptal, custasse o que custasse.»


Anatomia da conspiração

O núcleo duro estava formado, era constituído por dezena e meia de agricultores capazes de mobilizar o resto do povo. «Aos domingos, íamos às aldeias e no fim da missa explicávamos às pessoas o que podia acontecer à nossa terra», lembra Natália Esteves, descendente de uma família de grandes produtores de azeite feita de repente líder de protesto ecológico. «E também íamos de casa em casa, esclarecer quem não tinha estado nas assembleias.»
Ao início houve renitência, a madeira valeria sempre mais do que a azeitona, e a castanha ainda não rendia o que rende hoje. «Mas tentámos sempre centrar a conversa no que aconteceria daí a uns anos, dizer que os eucaliptos secariam os solos e o povo ficaria refém de uma única cultura, que se alguma coisa corresse mal não teriam mais nada.»
João Sousa esteve na organização dos protestos à socapa, era presidente da freguesia da Veiga do Lila. «Dizem que somos um povo sem educação mas afinal nós é que estávamos certos.»

O que mais assustava aquela gente, no entanto, era o fogo. «Onde há eucalipto, tudo arde. E então o povo já não chamava a árvore pelo nome, mas por fósforos.» A primeira batalha estava ganha: tinham o apoio da população.
João Sousa era nessa altura presidente da junta da Veiga do Lila. «Oficialmente não podia dizer que era contra os eucaliptos, nem ir contra a polícia. Mas, quando falava com as pessoas, dizia-lhes o que haviam de fazer», conta agora com uma gargalhada e sem ponta de medo.
«Vê, nem um eucalipto plantado. E o nosso vale há mais de 30 anos que não arde», diz João de Sousa.
«Então se tínhamos o melhor azeite do país íamos dar cabo dele para enriquecer uns ricalhaços de fora?» Tem 86 anos e uma destreza de 30, hoje estuga o passo para mostrar a zona que podia ter sido caixa de fósforos. «Vê, nem um eucalipto plantado. E o nosso vale há mais de 30 anos que não arde. Se o povo não se tem unido hoje estávamos a viver a mesma desgraça que vimos por esse país fora.»
Essa é aliás a conversa mais recorrente por estes dias no vale do Lila. A tragédia florestal portuguesa dá a este povo a impressão que eles sim, tinham razão há muitos anos, quando o governo e as autoridades lhes diziam o contrário.
«Podem achar que somos gente do campo, sem educação nem conhecimento, mas nós cá soubemos defender a nossa terra», diz o velhote. «Temos chorado muito por esta gente que perdeu vidas e animais e casas. E há uma coisa que o meu povo sabe: se temos deixado ficar os eucaliptos, também hoje choraríamos pelos nossos.»


A guerra

Há uns dias que os combates tinham começado. Ataques furtivos do povo, desorganizadamente, para arrancar pés de eucalipto nos limites do Ermeiro. Duas semanas antes da guerra, no Domingo de Ramos, as coisas aqueceram.
«Juntámos duas centenas de pessoas aqui destas aldeias e os donos da empresa chamaram a GNR», lembra António Morais. «Quando eles chegaram já tínhamos dado cabo de uns bons 50 hectares de eucaliptal.» Nesse dia não houve confrontos, porque o povo fugiu. Mas anunciaram a alto e bom som que voltariam depois da Páscoa.
Esse ataque tinha feito notícia no Jornal de Notícias e trazido uma mão-cheia de jornalistas à terra, nomeadamente Miguel Sousa Tavares, da RTP. «Percebi que as coisas estavam a tornar-se muito grandes e foi então que contactei a Quercus. Precisávamos de ajuda.»
Do outro lado da linha atendeu Serafim Riem, que dirigia o núcleo do Porto da organização ambientalista. O ecologista partiu imediatamente para o terreno. Nesses dias ouviriam do parlamento em Lisboa várias palavras de solidariedade. Sobretudo do PCP, d’Os Verdes e de um jovem deputado socialista chamado José Sócrates.

Agora não valia a pena esconder mais nada. A 31 de março de 1989, domingo depois da Páscoa, o povo juntar-se-ia todo na Veiga do Lila para dar cabo do eucaliptal que restasse. A aldeia enchera-se de jornalistas, havia até um helicóptero a cobrir os acontecimentos do ar.
A direção nacional da Quercus demarcar-se-ia da organização dos protestos através de um comunicado, mas os núcleos do Porto e Bragança encheriam cada um o seu autocarro de ambientalistas carregados de cartazes. Às duas da tarde o sino começou a tocar a rebate. Oito centenas de vozes entoavam «oliveiras sim, eucaliptos não» e largaram por um caminho de terra batida para a quinta do Ermeiro.

Não era preciso usar enchadas nem sacholas, os eucaliptos tinham sido plantados há pouco tempo e arrancavam-se com as mãos. A polícia tentava fazer uma linha de defesa, mas duas centenas de agentes não chegavam para aquela gente toda.

Numa hora, foram arrancados 180 hectares de pequenas árvores. «Alguns gozavam com os agentes na cara e levaram umas bastonadas das boas», recorda Natália Esteves. Os que eram de perto diziam-lhes assim: «Tendes razão, por isso vamos fingir que não vemos.» Viravam as costas e o povo ia subindo o terreno.

Num instante, o casario da quinta tornava-se no último reduto da investida. Uma dezena de guardas saíram a cavalo, era demonstração de força mas não surtiu resultado. A Soporcel tinha construído socalcos para plantar os eucaliptos e, agora, os animais não conseguiam descê-los.

«O povo ia atirando pedras aos guardas, houve um que acertou no cavalo e mandou-o abaixo», diz João Morais. Foi nesse momento que entrou em campo o corpo de intervenção, disposto a levar toda a gente pela frente. «Aí as coisas podiam ter descambado definitivamente.»


Todos por um

A guarda especializada avançava agora colina abaixo com escudos e capacetes. José Oliveira, um agricultor da pequena aldeia de Émeres, tentou escapar pela lateral, mas foi logo caçado pela guarda. No bolso trazia um revólver e foi isso que o tramou. «Levaram-no logo detido para dentro do jipe por posse de arma ilegal», conta agora a sua viúva, Ester.

Aquela detenção marcaria o início do fim da guerra. «As pessoas tinham recuado por causa do corpo de intervenção, mas quando se aperceberam que um dos nossos estava preso começaram a gritar que não arredariam pé enquanto ele não fosse solto», diz António Morais. Ester anui, «foi o vale inteiro que salvou o meu homem.» Agora já não havia pedras, havia gritos. Que libertassem o tio Zé e rápido

Serafim Reim, o homem da Quercus, é que foi lá negociar a libertação com os guardas. Sobravam menos de 20 hectares de eucalipto, o povo deixá-los-ia em paz se soltassem o velhote. Uma hora depois, houve consenso. Identificaram José Oliveira, caçaram-lhe a arma e mais tarde levaram-no a tribunal, mas naquele dia saiu pelo seu pé para os braços da mulher, e daí para casa.

António Morais, Natália Esteves, João Sousa e mais uma dezena de organizadores do protesto também seriam chamados à barra da justiça, um ano depois enfrentaram acusação de invasão de propriedade privada e foram condenados com pena suspensa.
«Ainda vieram uns engenheiros da Soporcel dizer que retirariam a queixa se nos comprometêssemos a não destruir uma nova plantação de eucalipto. Disse-lhes que nem pensar, aqui nunca teríamos árvores dessas no nosso vale.»

Nas noites seguintes arrancou-se à socapa quase tudo o que faltava, ficaram apenas meia dúzia de hectares a rodear o casario da quinta, mais passível de vigia. A Soporcel acabaria por desistir e vender a propriedade e a família que a comprou, quando ousou confessar a Natália Esteves que pensavam plantar eucaliptos, foram logo avisados: «Se os botais nós os arrancamos.»
«A única maneira de travar os incêndios em Portugal é reduzir o eucaliptal e substituí-lo pela floresta autóctone», diz o ambientalista Serafim Riem.
Hoje, o Ermeiro é terra de nogueiras e amendoeiras, oliveiras e pinho. Nunca ardeu. Serafim Riem, o ambientalista da Quercus, diz que até hoje a guerra do povo de Valpaços é um marco, a maior ligação jamais vista no país entre o mundo rural e o ativismo ecológico.

«A única maneira de travar os incêndios em Portugal é reduzir drasticamente o eucaliptal e substituí-lo pela floresta autóctone, que não só tem melhor imunidade ao fogo como gera uma riqueza mais diversificada para as populações.»

Naquele 31 de março de 1989, o povo uniu-se e, diz agora, salvou-se. «Nós é que tínhamos razão», repetem uma e outra vez, repetem todos. Às seis da tarde, depois de José Oliveira ser libertado, um vale inteiro voltou pelo mesmo caminho e juntou-se no principal largo de Veiga do Lila. Mataram-se dois borregos e um leitão, abriram-se presuntos e deitaram-se alheiras à brasa, houve até quem trouxesse uma pipa de vinho. A festa durou noite dentro e foi maior do que qualquer romaria de Santa Bárbara.

À volta da fogueira acabariam por juntar-se também os guardas que horas antes defendiam o Ermeiro. E ali ficaram a comer e beber, vencedores e vencidos, que em Trás-os-Montes nunca se nega hospitalidade. Maria João Sousa nunca tinha visto uma coisa daquelas, nem nunca voltaria a vê-la na sua terra. Foi o 25 de Abril da sua gente. «Há lá coisa mais bonita do que uma revolução.»

sábado, 21 de outubro de 2017

Os negócios do fogo...



Desde sempre que houve Florestas, desde sempre que houve pessoas – e o seu grau de educação sempre tem evoluído. Sempre houve pirómanos e desequilibrados. Sempre houve calor e outros fenómenos meteorológicos propiciadores a fogos. As preocupações com o ambiente têm aumentado (e bem) exponencialmente. Os meios tecnológicos à disposição são cada vez mais e melhores.

Apesar de tudo isto,o número de incêndios florestais não cessa de aumentar e atingiu este ano de 2017 proporções inimagináveis. A área ardida este ano em Portugal é destacadamente superior à soma da área ardida de todos os países da União Europeia. Quase 10% de Portugal é hoje cinza e terra queimada!

Não restam muitas dúvidas de que a principal razão que leva a este aumento de fogos, cuja esmagadora maioria vem a público como tendo origem criminosa – embora sempre difusa – tem a ver com "negócios" a que se convencionou chamar "o negócio do fogo", ou "a indústria do fogo". Ou seja, quanto mais dinheiro o governo anunciar que vai injetar no combate aos fogos, mais fogos irá haver...

Eis algumas hipóteses sem preocupação de hierarquia:
- Ao "negócio" da compra e venda da madeira; a madeira queimada é mais barata, dá lucros a curto prazo, mas é suicidária a longo prazo;
- Às celulosas, no sentido em que poderão querer promover a substituição do coberto vegetal por outro de crescimento mais rápido e melhor para o negócio do papel;
- À especulação imobiliária, no sentido de favorecer o "negócio" da compra e venda de propriedades; - Ao "negócio" da caça privada versus caça pública, atente-se às polémicas havidas;
- Ao "negócio" das indústrias relacionadas com o combate a fogos, viaturas, equipamentos diversos, extintores, compostos químicos, etc., alguns dos quais estão relacionados com elementos da própria estrutura de comando de bombeiros (como chegou a vir a público no ano transato);
- Ao "negócio" dos meios aéreos para combate a incêndios. Este negócio disparou nos últimos anos. Até ao governo do Engenheiro Guterres a maioria dos meios aéreos envolvidos pertencia à Força Aérea (FA), que tinha gasto nos anos 80, cerca de 200.000 contos em equipamentos. Foi no longínquo ano de 1997 que o Secretário de Estado Armando Vara entendeu (sabendo-se o passado deste homem, já se pode adivinhar o porquê desta decisão!), que não competia à FA intervir nos incêndios mas sim que deveriam ser contratadas empresas civis. Compreende-se mal esta atitude a não ser pela sanha existente por parte da maioria dos políticos em menorizar os militares e as Forças Armadas. Certo é, também, que a FA não paga comissões.

Elencados todos os negócios que lucram, diretamente ou indiretamente, com a indústria subjacente aos incêndios, compete ao Ministério da Administração Interna apurar e quantificar esses lucros. Fala-se hoje que os bombeiros podem receber 50 Euros por cada dia de combate (não sei se é verdade isto). Mas também se sabe que o aluguer de meios aéreos para combate a incêndios a empresas privadas origina lucros de milhões de euros. Ora se houver necessidade de estender os prazos de aluguer a períodos antes e depois do verão (a chamada fase Charlie) o lucro dessas empresas pode vir a duplicar. E o certo é que, curiosa e estranhamente, os dois dias com maior número de ocorrências e ignições em 2017 ocorreram precisamente fora do período normal do contrato dos meios aéreos.

Não posso deixar de citar o que me disse um dia um agricultor, do alto dos seus 80 anos e uma vida passada no meio da natureza: "No dia anterior ao maior incêndio aqui na aldeia, apareceram aqui umas avionetas. E eu vi alguma coisa cair dessas avionetas ali para o meio da serra. Não sei o que seria, mas o que eu sei é que umas horas mais tarde a serra estava toda a arder!"

Não deveria investigar a Polícia Judiciária o que lançam essas avionetas ou helicópteros, em vez de se procurar o incendiário solitário, pirómano ou desequilibrado psicologicamente, de que tanto se fala? Perguntem às populações se nas horas que antecederam as ignições observaram algum movimento suspeito por aeronaves? E depois é só investigar de onde partiram e a quem pertencem. Será assim tão difícil ou não há interesse em encontrar os verdadeiros responsáveis?

Em função do que se disse anteriormente, sou de opinião que os meios de combate a incêndios devem estar na FA. O Estado deverá investir na aquisição de novos meios, reforçando o dispositivo de combate aéreo, no lugar de pagar milhões de euros todos os anos a empresas e fundos de investimento donos desses dispositivos que, obviamente, pretendem ter lucro sem olhar a meios. É que, aparentemente, já não se trata de um investimento sazonal, ao contrário do que acontecia até aqui. Paralelamente a esse reforço, que permitiria que os meios de combate estivessem sempre operacionais e disponíveis, independentemente de contratos de extensão de prazos (também estes de milhões), acordos de cooperação entre países amigos poderão e deverão ser celebrados para otimizar o investimento feito.

Nota: Este texto apoia-se em dados de um artigo de opinião, publicado originalmente em 2004 por João Brandão Ferreira.

sábado, 16 de setembro de 2017

Nova Zona Empresarial Água Longa: Um Projeto Insustentável




Andreia Neto, candidata da coligação PPD/PSD.CDS-PP, tem insistido que um dos seus principais projetos eleitorais é a criação de um parque empresarial de 150 hectares na freguesia de Água Longa. Segundo uma recente entrevista a um jornal bimensal que recebi gratuitamente na minha caixa de correio pela primeira vez, “Notícias de Santo Tirso”, Andreia Neto diz que “Santo Tirso deve seguir o exemplo de Valongo, do outro lado da autoestrada”.

A ideia da criação de emprego para fixar população é o principal argumento por detrás deste projeto, aproveitando os melhores acessos do concelho ao Porto, Sul e Galiza. Seria uma boa iniciativa, se não implicasse um impacto extremamente negativo para a população das freguesias do Vale do Leça, que passarei a elencar em cinco pontos.

1.       Projeto Megalómano. 150 hectares de terreno correspondem a 150 campos de futebol, espaço suficiente para alojar muitas centenas de grandes novas empresas. Tratando-se de empresas de pequena e média dimensão, de cariz tecnológico, podemos mesmo falar de milhares de empresas. Este número é descabido, se considerarmos que no concelho todo temos pouco mais de 5000 empresas, e em 2014 se criaram apenas 195 empresas novas (segundo números da candidatura de Andreia Neto).

2.       Destruição de 150 hectares de área ecológica protegida. O local escolhido pela candidata é uma mancha florestal que integra a reserva ecológica, sendo determinante para o equilíbrio ambiental de todo o Vale do Leça e para a qualidade de vida das populações, nomeadamente para as futuras gerações. No programa eleitoral da candidata, encontra-se plasmado que “a sustentabilidade ambiental e a consequente melhoria da qualidade de vida será uma prioridade. A Câmara Municipal deve privilegiar a educação ambiental, e dar o exemplo, e assim o faremos.” Ora acontece que este projeto, contemplando a destruição de 150 hectares de floresta, cujo impacto ambiental seria brutal, descredibiliza completamente este programa eleitoral. Os eleitores facilmente se apercebem que a área de ambiente e sustentabilidade não será uma prioridade, antes pelo contrário.

3.       Descaracterização das Freguesias do Vale do Leça. Qualquer munícipe de Santo Tirso que atravesse as freguesias de Vale do Leça, rapidamente constata que este território tem características próprias, em particular um traço marcadamente rural, que o distingue do resto do concelho. Só assim se justifica que estas freguesias ainda não tenham, em pleno século XXI, abastecimento de água de rede pública. Se a água ainda não chegou a estas freguesias, não é com certeza oportuno que cheguem subitamente centenas de novas empresas. Os munícipes do Vale do Leça viveram estes anos sem água, graças a um solo arável e um ambiente despoluído, rodeados de manchas florestais. Não aceitarão que esse solo seja contaminado, o ambiente poluído e a mancha florestal destruída. A ambição da candidata tem aqui um preço demasiado a pagar.

4.       Trânsito de pesados insustentável. Os habitantes das freguesias do Vale do Leça que têm que se deslocar diariamente para o Porto, como é o meu caso, já constataram que a estrada N105, que faz a ligação entre Água Longa e o nó da A41 de Alfena, se encontra repleta de camiões desde a abertura do novo entreposto da Jerónimo Martins. Trata-se de camiões da empresa ZAS-Transportes, contratada para trabalhar exclusivamente para o grupo Jerónimo Martins (Pingo Doce), e por isso facilmente identificáveis. Há informações publicadas que dão conta que estes camiões estão proibidos de circular em autoestradas, e é o que se constata no terreno. É, no mínimo, legítimo perguntar à candidata Andreia Neto o que aconteceria se estas novas empresas (mesmo uma pequena parte) também proibissem o transporte de mercadorias por autoestrada. Com este exemplo concreto, como poderá Andreia Neto prometer que “não trará qualquer problema de trânsito de pesados porque sairão e entrarão na autoestrada diretamente das suas empresas”?  O trânsito na N105 seria caótico, impossibilitando os munícipes das freguesias do Vale do Leça de ali circularem. Paradoxalmente, teríamos os pesados de transporte a circular na estrada nacional e os habitantes obrigados a pagar as portagens na A41, com claro prejuízo para os munícipes de Santo Tirso.

5.       Poluição ambiental e visual. Conforme já mencionado, o território do Vale do Leça subsiste essencialmente da agricultura e pecuária, graças a um solo arável e descontaminado, assim como abundância de água. A candidata da coligação promete “um parque para grandes empresas não poluidoras que criarão empregos de qualidade”. Ao destruir 150 hectares de floresta numa zona elevada da Serra da Agrela, as consequências seriam dramáticas para as populações do sopé desta Serra, principalmente devido à lixiviação e contaminação dos solos e águas. A falta de água acabaria, também, por ser uma consequência. Uma zona de lazer muito agradável e muito explorada para passeios pedestres, BTT e motocross seria substituída por enormes pavilhões de betão e metal, daqueles que se constroem em 3 meses e ali ficam para sempre. Seria uma herança muito pesada para uma população, que veria a sua qualidade de vida diminuir drasticamente e os terrenos e habitações desvalorizados. O exemplo de áreas empresariais ao abandono do concelho vizinho de Paços de Ferreira, e inclusive de Santo Tirso, deveriam fazer refletir a candidata. O aproveitamento de áreas empresariais próximas, como a zona de iniciativa empresarial que nasceu espontaneamente em Água Longa, mais concretamente no percurso que liga a freguesia ao concelho da Trofa através da EN 318, seria uma decisão aceitável e que não colidiria com os interesses das populações.



Não existem muitas áreas de mancha florestal com esta dimensão no concelho de Santo Tirso, com a vantagem de estar muito próximo da cidade do Porto. Uma estratégia de longo prazo, componente crítica para a sustentabilidade e, em última análise, a sobrevivência humana, consiste em manter áreas representativas dos vários ecossistemas do mundo num estado razoavelmente intacto e funcional. O designado ecoturismo está na ordem do dia, à escala global, sendo o principal desafio que a indústria do turismo enfrenta. Esta área ecológica protegida tem um enorme potencial turístico por explorar, em particular destinado ao ecoturismo e turismo de natureza. Pede-se que um candidato à Câmara Municipal tenha visão de longo prazo, o que implica conhecimento de programas estratégicos europeus e mundiais. Estamos rodeados de casos que demonstram que a ambição do curto prazo tem efeitos nefastos e irreversíveis, pagos pelas gerações futuras.

Não querendo acreditar que a candidata Andreia Neto, natural de S. Martinho do Campo, pretenda prejudicar intencionalmente as populações do Vale de Leça, é no mínimo plausível pensar que o possa fazer por falta de conhecimento destas freguesias. Enquanto munícipe e eleitor de Santo Tirso, que nunca teve qualquer envolvimento em movimentos políticos, independentes ou partidários, não ficaria bem com a minha consciência se não alertasse a equipa da candidata Andreia Neto, para os impactos negativos deste projeto eleitoral. Faço-o como pai, que deseja que os filhos cresçam num ambiente saudável e descontaminado, como hoje existe. Faço-o, também, na qualidade de cidadão, que deseja o melhor para a comunidade da sua freguesia, o seu concelho e o seu país.

domingo, 25 de setembro de 2016

A preguiça é virtude...



Aproveitando uma crónica de opinião no DN de António Barreto, com alguns excertos transcritos a seguir, não podia deixar de salientar o paralelismo, que senti durante a leitura do texto, com o que se passa na Educação.


Preguiça, lugar-comum, boçalidade, vulgaridade, falta de cultura e banalidade. O que se aplica às redações de jornais e televisões, segundo António Barreto, também se aplica aos anfiteatros das faculdades deste país.


Superficialidade, generalidades, trivialidade, facilitismo, ostentação, ausência de espírito de crítica e sacrifício. Tudo isto aliado a um cansaço quase permanente que os estudantes revelam, causador de lapsos de concentração frequentes. Esta é a realidade quotidiana das salas de aulas de Escolas e Faculdades em Portugal. Este é o cenário com que se deparam professores deste país, todos os dias.

Já começam a sair resultados de estudos que comprovam os malefícios e riscos da internet que correm os jovens adolescentes e adultos: gaming, gambling e outros vícios.

Por isso, caro António Barreto, a realidade das redações de jornais e televisões não é mais do que consequência do quotidiano do Ensino. Esses estagiários de jornalismo mais não fazem do que aplicar no seu trabalho os métodos e práticas com que sempre viveram.


TRANSCRIÇÃO DA CRÓNICA DE ANTÓNIO BARRETO, PUBLICADA NO DN (25.09.2016):


É simplesmente desmoralizante. Ver e ouvir os serviços de notícias das três ou quatro estações de televisão é pena capital. A banalidade reina. O lugar-comum impera. A linguagem é automática. A preguiça é virtude. O tosco é arte. A brutalidade passa por emoção. A vulgaridade é sinal de verdade. A boçalidade é prova do que é genuíno. A submissão ao poder e aos partidos é democracia. A falta de cultura e de inteligência é isenção profissional.


Os serviços de notícias de uma hora ou hora e meia, às vezes duas, quase únicos no mundo, são assim porque não se pode gastar dinheiro, não se quer ou não sabe trabalhar na redacção, porque não há quem estude nem quem pense. Os alinhamentos são idênticos de canal para canal. Quem marca a agenda dos noticiários são os partidos, os ministros e os treinadores de futebol. Quem estabelece os horários são as conferências de imprensa, as inaugurações, as visitas de ministros e os jogadores de futebol.


Os directos excitantes, sem matéria de excitação, são a jóia de qualquer serviço. Por tudo e nada, sai um directo. Figurão no aeroporto, comboio atrasado, treinador de futebol maldisposto, incêndio numa floresta, assassinato de criança e acidente com camião: sai um directo, com jornalista aprendiz a falar como se estivesse no meio da guerra civil, a fim de dar emoção e fazer humano.


Jornalistas em directo gaguejam palavreado sobre qualquer assunto: importante e humano é o directo, não editado, não pensado, não trabalhado, inculto, mal dito, mal soletrado, mal organizado, inútil, vago e vazio, mas sempre dito de um só fôlego para dar emoção! Repetem-se quilómetros de filme e horas de conversa tosca sobre incêndios de florestas e futebol. É o reino da preguiça e da estupidez.


É absoluto o desprezo por tudo quanto é estrangeiro, a não ser que haja muitos mortos e algum terrorismo pelo caminho. As questões políticas internacionais quase não existem ou são despejadas no fim. Outras, incluindo científicas e artísticas, são esquecidas. Quase não há comentadores isentos, ou especialistas competentes, mas há partidários fixos e políticos no activo, autarcas, deputados, o que for, incluindo políticos na reserva, políticos na espera e candidatos a qualquer coisa! Cultura? Será o ministro da dita. Ciência? Vai ser o secretário de Estado respectivo. Arte? Um director-geral chega.


Repetem-se as cenas pungentes, com lágrima de mãe, choro de criança, esgares de pai e tremores de voz de toda a gente. Não há respeito pela privacidade. Não há decoro nem pudor. Tudo em nome da informação em directo. Tudo supostamente por uma informação humanizada, quando o que se faz é puramente selvagem e predador. Assassinatos de familiares, raptos de crianças e mulheres, infanticídios, uxoricídios e outros homicídios ocupam horas de serviços.


A falta de critério profissional, inteligente e culto é proverbial. Qualquer tema importante, assunto de relevo ou notícia interessante pode ser interrompido por um treinador que fala, um jogador que chega, um futebolista que rosna ou um adepto que divaga.


Procuram-se presidentes e ministros nos corredores dos palácios, à entrada de tascas, à saída de reuniões e à porta de inaugurações. Dá-se a palavra passivamente a tudo quanto parece ter poder, ministro de preferência, responsável partidário a seguir. Os partidos fazem as notícias, quase as lêem e comentam-nas. Um pequeno partido de menos de 10% comanda canais e serviços de notícias.


A concepção do pluralismo é de uma total indigência: se uma notícia for comentada por cinco ou seis representantes dos partidos, há pluralismo! O mesmo pode repetir-se três ou quatro vezes no mesmo serviço de notícias! É o pluralismo dos papagaios no seu melhor!

domingo, 28 de agosto de 2016

Em defesa da ruralidade



A discussão "Campo ou cidade?" voltou à atualidade, num tempo em que a era digital e a internet colocam próximas pessoas que se encontram geograficamente afastadas. Na realidade, o aparecimento de profissões digitais tornou possível trabalhar a partir de casa, seja numa pequena fração de uma torre de uma grande metrópole ou numa pequena cabana rodeada de vegetação luxuriante, no mais isolado dos locais.

Tenho constatado nos últimos tempos que as grandes cidades estão "doentes". A procura de um habitat saudável passa, a meu ver, por um misto de urbanidade/ruralidade. O bem estar psicológico é possível se obtivermos das cidades o melhor que elas oferecem e da natureza a tranquilidade de que necessitamos. Como faço questão de fundamentar a defesa da ruralidade, pesquisei.


Stanley Milgram, psicólogo da Universidade de Yale, foi um dos primeiros a compreender as diferenças. A sua tese defendia que a maior diferença entre os dois âmbitos é o nível de estimulação. Assim, segundo Milgram, a cidade bombardeia-nos com uma torrente de mensagens sensitivas que ultrapassa a capacidade humana de processar informação. Ou seja, há demasiadas coisas e não podemos dar atenção a tudo. Por isso, colocamos em funcionamento um mecanismo de adaptação: ignorar tudo o que não seja relevante.

Na mesma linha vão os estudos de Stephen Kaplan, da Universidade do Michigan. A sua principal tese pode ser resumida numa frase: “O cérebro também se cansa.” As investigações conduzidas por Kaplan demonstram, por exemplo, o modo como a nossa memória ou a execução de tarefas melhoram depois de um passeio por um lugar tranquilo.

A hipótese em que trabalha é que os ambientes que causam mais stress (ruas com engarrafamentos, aglomerações...) obrigam a efetuar um esforço mental, ativado por estímulos fundamentais para a sobrevivência. Esse fluxo contínuo dificulta a atenção direta, isto é, aquela que podemos focar voluntariamente. Daí que o nosso cérebro repouse mesmo que seja apenas ao contemplar a fotografia de uma paisagem; e também, explica o psicólogo norte-americano, quando nos sentamos num parque ou caminhamos por uma rua só para peões. 


De qualquer modo, a influência negativa das paisagens construídas pelo homem no nosso estado de espírito é um facto constatável, como confirmou, em 1984, Roger Ulrich, da Universidade do Texas. O professor analisou a recuperação de um grupo de doentes submetidos à mesma intervenção cirúrgica: alguns podiam ver, pela janela do hospital, as árvores de um jardim, enquanto os restantes contemplavam uma parede de azulejos. Os relatórios médicos concluíram que os primeiros recuperavam muito antes, devido ao melhor estado anímico e ao seu otimismo.

Muitos outros estudos atribuíram o agravamento do nosso estado de saúde à influência das metrópoles modernas. Um dos mais recentes, conduzido em 2010 por Brendan Kelly, da Universidade de Dublin, estabelecia que o risco de sofrer de esquizofrenia aumenta quando alguém nasce ou vive longas temporadas em áreas urbanas, sobretudo se for do sexo masculino.

Atualmente, os especialistas procuram descobrir as causas para a inegável influência tóxica do betão. Alguns trazem à baila circunstâncias que seria importante minimizar, como a fragmentação social, o stress provocado pelo excesso de estímulos ou problemas de desenvolvimento neuronal. 


quarta-feira, 1 de julho de 2015

Sarajevo, uma guerra esquecida!

Em 1992, a Bósnia-Hernegovina era constituída essencialmente por três religiões principais: 46% de muçulmanos, 35% de ortodoxos sérvios e 15% de católicos. Assim conviveram entre 1945 e 1990, durante o período em que integrou a Republica Federal Solicialista Jugoslávia. Após a morte do Marechal Tito, o "ditador benevolente", em 1980, a paz entre as diversas etnias dos Balcãs ficou seriamente ameaçada.

Em 1990, tiveram lugar as primeiras eleições parlamentares multi-partidárias da Bósnia-Herzegovina. Seguiram-se dois anos de caos ná federação, devido à luta pela independência e á luta interna pelo poder parlamentar no novo país.

Em Abril de 1992, 800 tanques e canhões anti-aéreas, enviados por Slobodan Milosevic, o presidente da Sérvia, invadiram Sarajevo, a multi-cultural e cosmopolita capital Bósnia.

No dia 27 de maio de 1992, um fatídico míssil atingiu o mercado de Sarajevo, matando 57 civis, entre os quais mulheres e crianças, que ali faziam as compras do dia. "Reza por eles e não deixes de contar a toda a gente o que aconteceu em Sarajevo". Nos dias e meses seguintes, 50 mil mulheres foram violadas, 1300 mesquitas foram destruídas e mais de 200 mil Bósnios foram assassinados, naquele que é considerado o maior crime de guerra na Europa desde o fim da II Guerra Mundial.

Sarajevo foi sempre protagonista da História! Pelas suas ruas passaram todos os exércitos da Europa. Foi cobiçada por Roma e conquistada por Napoleão. Foi capital do Império Otomano. Mas... mesmo com as suas cicatrizes, continua sendo uma cidade cheia de vida!

Durante o genocídio Bósnio (e não há que ter medo em classificar assim o que aconteceu), às portas da União Europeia, das 4 milhões e setecentas mil pessoas que ali viviam, duzentas mil morreram e cerca de um milhão abandonou o país. Daí, não ser difícil encontrar Bósnios em 112 países distintos. Dos que ficaram, 70% são muçulmanos, 15% croatas e 15% sérvios.

A Guerra da Bósnia culmina com o massacre de Srebrenica, em julho de 1995. Durante os três anos que durou, queimaram-se as árvores de Sarajevo, primeiro, livros e fotografias, depois, para ajudar a enfrentar os -20ºC, sem eletricidade na cidade.

"O pior foi perder amigos...
O melhor? Era quando deixávamos de lado o ódio e muçulmanos e croatas nos juntavamos no meio da linha de fogo, a tomar café, fumar cigarros e recordar os bons velhos tempos...
Uma hora depois ali estávamos, nas respetivas posições, a matar-nos uns aos outros...".

"Don't let them kill us!" foi a faixa que as candidatas a Miss Sarajevo exibiram durante o concurso que teve lugar em 1993, no meio dos bombardeamentos da cidade de Sarajevo.

Foram estas as palavras que inspiraram Bono, Brian Eno e Pavarotti a compor e interpretar este hino à paz, intitulado precisamente "Miss Sarajevo" e cuja primeira actuação ocorreu em Módena, no dia 12 de setembro de 1995.

Foi um genocídio na Europa, de que me recordo bem. 
Esse concerto foi há 20 anos. 
Para que não se esqueça...

 


sexta-feira, 5 de junho de 2015

Desconectar para conectar

Esta é a luta que irei continuar a travar junto das gerações mais novas, mesmo arriscando o rótulo de "retrógado":

- "Levanta os olhos, desliga o teu dispositivo e liga-te ao mundo..."


 
 
 

Ligado a Máquinas



Um dia, a minha mãe e eu conversávamos sobre a vida e a morte, e eu disse-lhe:

- Mãe, se um dia eu estiver num estado vegetativo, em que a minha vida dependa unicamente de aparelhos, desligue-os por favor.


- Com essas máquinas que me mantêm artificialmente com vida! EU PREFIRO MORRER !!!

Então vi a minha mãe a levantar-se, olhando-me cheia de admiração ... E puxando decididamente os fios, ela desligou:

a tv,

o dvd,

o cabo de internet,

o computador,

o MP3/4,

o playstation,

o wifi,

o fixo ...

E ainda me arrancou das mãos:

o telemóvel,

o tablet

o Ipod,

. . . QUASE ÍA MORRENDO, PUXA !!!"

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Diferenças Anos 60 - Anos 2000



Situação: O fim das férias.
Anos 1960:Depois de passar 15 dias com a família atrelada numa caravana puxada por um Fiat 600 pela costa de Portugal, ou passar esses 15 dias na praia do Castelo do Queijo, terminam as férias. No dia seguinte vai-se trabalhar e os miúdos para as aulas.

Anos 2000: Depois de voltar de Cancún de uma viagem com tudo pago, terminam as férias. As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão, seborreia e caganeira.

Situação: Chega o dia de mudança de horário de Verão para Inverno.
Anos 1960:
Não se passa nada.

Anos 2000:
As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão e caganeira.

Situação: O Pedro está a pensar ir até à mata depois das aulas, Assim que entra no colégio mostra uma navalha ao João, com a qual espera poder cortar uns ramos e fazer uma fisga.
Anos 1960: O professor vê, pergunta-lhe onde se vendem daquelas navalhas, e mostra-lhe a sua, que é mais antiga, mas que também é boa.

Anos 2000: A escola é encerrada, chamam a Polícia Judiciária e levam o Pedro para um reformatório. A SIC e a TVI apresentam os telejornais desde a porta da escola.

Situação: O Carlos e o Quim trocam uns socos no fim das aulas.
Anos 1960:
Os companheiros animam a luta, puxam por eles, e o Carlos ganha. Apertam as mãos e acabam por ir juntos jogar matrecos.

Anos 2000: A escola é encerrada. A SIC proclama o mês anti-violência escolar. O Jornal de Notícias faz uma capa inteira dedicada ao tema, e a TVI insiste em colocar uma equipe de reportagem à porta da escola a apresentar o telejornal, mesmo debaixo de chuva.

Situação: O Jaime não pára quieto nas aulas, interrompe e incomoda os colegas.
Anos 1960:
Mandam o Jaime falar com o Director, e este dá-lhe uma bronca de todo o tamanho. O Jaime volta à aula, senta-se em silêncio e não interrompe mais.

Anos 2000:
Administram ao Jaime umas valentes doses de Ritalin. O Jaime parece um zombie. A escola recebe um apoio financeiro por terem um aluno incapacitado.

Situação: O Luis parte o vidro dum carro do bairro dele. O pai caça um cinto e espeta-lhe umas chicotadas com este.
Anos 1960: O Luis tem mais cuidado da próxima vez. Cresce normalmente, vai à universidade e converte-se num homem de negócios bem-sucedido.

Anos 2000: Prendem o pai do Luís por maus-tratos a menores. Sem a figura paterna, o Luís junta-se a um gang de rua. Os psicólogos convencem a sua irmã que o pai abusava dela e metem-no na cadeia para sempre. A mãe do Luís começa a namorar com o psicólogo. O programa da Fátima Lopes mantém durante meses o caso em estudo, bem como o Você na TV do Manuel Luís Goucha.

Situação: O Zezinho cai enquanto praticava atletismo, arranha um joelho. A professora encontra-o sentado na berma da pista a chorar e abraça-o para o consolar.

Anos 1960: Passado pouco tempo, o Zezinho sente-se melhor e continua a correr.

Anos 2000:
A professora é acusada de perversão de menores e vai para o desemprego. Confronta-se com 3 anos de prisão. O Zezinho passa 5 anos de terapia em terapia. Os seus pais processam a escola por negligência e a professora por trauma emocional, ganhando ambos os processos.
A professora, no desemprego e cheia de dívidas, suicida-se atirando-se de um prédio. Ao aterrar, cai em cima de um carro, mas antes ainda parte com o corpo uma varanda. O dono do carro e do apartamento processam os familiares da professora por destruição de propriedade. Ganham. A SIC e a TVI produzem um filme baseado neste caso.

Situação: Um menino branco e um menino negro andam à batatada por um ter chamado 'chocolate' ao outro.
Anos 1960: Depois de uns socos de parte a parte, levantam-se e vai cada um para sua casa. Amanhã são amigos.

Anos 2000:
A TVI envia os seus melhores correspondentes. A SIC prepara uma grande reportagem dessas com investigadores que passaram dias no colégio a averiguar factos. Emitem-se programas documentários sobre jovens problemáticos e ódio racial. A juventude skinhead finge revoltar-se a respeito disto. O governo oferece um apartamento à família do miúdo negro.

Situação: Fazias uma asneira na sala de aula.
Anos 1960:O professor espetava-te duas valentes lambadas bem merecidas. Ao chegar a casa o teu pai dava-te mais duas porque 'alguma deves ter feito'

Anos 2000: Fazes uma asneira. O professor pede-te desculpa. O teu pai pede-te desculpa e compra-te uma Playstation 3.